O Saara Ocidental é um território localizado na costa ocidental do continente africano e divide fronteira com a Argélia, o Reino do Marrocos e a Mauritânia, esse pertence, portanto, ao Magreb. O Magreb é uma região no noroeste do continente africano com raízes árabes, possui o clima desértico, o que dificulta a agricultura de larga escala na região e concentra as populações na beira de rios e no litoral mediterrânico. É possível encontrar essa sob o seu nome eurocentrista “África Branca”, uma forma de diferenciar a população de origem árabe e caucasiana do resto do continente; além dessas, também é comum a designação “África do Norte”. Os países dali possuem suas economias voltadas para a exploração de petróleo e minérios, como também o setor de serviços e o turismo (em países como Egito, Marrocos e Argélia). Atualmente, estima-se que a população esteja em 800.000 pessoas.
A história do Saara, como país, começa na segunda metade do século XX, e como tantas outras, é fruto da instabilidade de seu colonizador: a Espanha. Esse país passava por dificuldades políticas com o fim do franquismo, e por meio dos pareceres da Comissão de Observadores da Organização das Nações Unidas (ONU) e do consultivo da Corte Internacional de Justiça (CIJ) em 1975, a Espanha outorgou a administração do Saara Ocidental ao Marrocos e à Mauritânia. Dessa forma, o processo de independência não ocorreu em sua plenitude, ele nunca foi concluído e nem foi dado ao povo nativo, os Sahrawis, o direito à sua autodeterminação, a decisão foi arbitrária. A partir dali, nasceria um movimento pela independência do Saara Ocidental pela voz da Frente Polisário (Frente Popular de Liberação de Saguía e Río de Oro), composta pelos Sahrawis e com o apoio da Argélia. Esse auxílio é realizado como tentativa para dificultar a expansão marroquina e será algo de grande controvérsia entre os dois vizinhos. Oficialmente, o Marrocos e a Frente Polisário estão em cessar-fogo desde 1991. Isso não impediu, no entanto, que pequenos conflitos continuassem a ocorrer, e que o território Sahrawi fosse degradado. O Saara Ocidental está sendo anexado de forma gradativa pelo Marrocos desde 1976 quando os laços coloniais com a Espanha foram extintos. A expansão faz parte de um projeto imperial marroquino em criar o “Grande Maghreb Árabe”.
A forma como a ocupação marroquina é realizada é um objeto de extrema problemática, ainda que seja mais desconhecida que o próprio Saara Ocidental. Em cada conquista territorial, o Marrocos constrói um muro de areia e pedras, além de criar armadilhas e posicionar pelotões em locais estratégicos. Enquanto realiza a ação, a população que vivia naquele espaço é separada por muro, o trânsito entre os lados é impossível e famílias e vizinhos são separados. Os que ficam enclausurados dentro dos muros são subordinados ao comando marroquino ou à luta contra a perpetuação desse sistema; de qualquer forma, a única certeza é a devastação de uma crise humanitária. Desde o início da guerra, em 1976, as famílias que decidem fugir se direcionam à Mauritânia e, principalmente, à Argélia — vizinha e principal rival do Marrocos, apoia a Frente Polisário — são assentadas em campos de refugiados.
Em 1991, a Missão da ONU para o Referendo do Saara Ocidental (MINURSO) foi instaurada com a finalidade de realizar um referendo para a independência do país. Entretanto, diversos problemas foram apresentados; o principal deles era a própria definição de quem era o povo Sahrawis e quem poderia votar na ocasião, se apenas aqueles que estivessem fisicamente habitando o território ou se aqueles que morassem nos países vizinhos e os refugiados também poderiam. Entretanto, o referendo continua de forma suspensa.
É certo que a ambição do “Grande Maghreb Árabe” serviu de inspiração para o Reino de Marrocos, mas fatores geoestratégicos devem ser considerados e ponderados nesta análise. Estima-se que o Saara Ocidental (e o Marrocos) possua uma das maiores reservas de fosfato, com cerca de 70% de todo o estoque mundial, o mineral é encontrado em abundância no território e possui como um de seus principais usos comerciais a sua utilização como fertilizante na agricultura para renovar o solo. Não por acaso, é possível perceber hoje que quase a totalidade da exploração de fosfato no Saara Ocidental é realizada por empresas marroquinas. Outrossim, a exploração de petróleo offshore e onshore e gás apresentam boas perspectivas de crescimento futuro; além disso, a disposição geográfica o coloca próximo ao Estreito de Gibraltar, o que torna exportações para a Europa rápidas. Dessa maneira, percebe-se como o Saara Ocidental possui diversas vantagens para explicar a ocupação marroquina.
Entretanto, desde dezembro de 2020 o cessar-fogo entre os dois foi quebrado. Isso ocorreu pela decisão da Frente Polisário de retornar ações para interromper o fluxo entre os países. Acredita-se que essa foi uma tentativa de chamar atenção da comunidade internacional frente ao esquecimento do conflito e as novas manobras marroquinas. A principal delas foi a utilização do reconhecimento do Saara Ocidental como parte do território do Marrocos pelos Estados Unidos da América para que o Reino normalizasse suas relações com Israel. A opção foi aceita e, desde 2021, o mapa estadunidense incorporou o Saara Ocidental ao Marrocos.
O prognóstico para o futuro do Saara Ocidental é incerto. Situado em uma região de baixo interesse midiático, com uma população fragmentada e um imperialista determinado a manter controle do território, é pouco provável que a situação dos Sahrawi seja revertida.